Uma das piores coisas dessa nossa modernidade é a pressa. Não temos paciência para construir nada, queremos tudo pra ontem e trabalhar em grupo é difícil. Eu sou refém desse defeito. Dito isso, vocês vão entender porque a cena que vi hoje no metrô mexeu tanto comigo.
Estava voltando pra casa depois de visitar minha mãe, como faço todos os domingos. Como todos os domingo eu adio minha partida ao máximo, já que a viagem é longa e colo de mãe é uma delícia. Estava sentada sozinha no metrô esperando ele partir e ouvindo música no mp3. Distraída, vejo passar por mim um casal jovem, que pelo porte da Bíblia, deveria estar voltando da igreja. A moça sentou no último par de bancos que fica de costas para o próximo vagão. O rapaz que a acompanhava falou alguma coisa e continuou andando, em direção às portas que separam os vagões. Eu, sentada de frente, acompanhava toda a cena ainda distraída. Ele andava devagar, tentando convencer a moça a ir para o outro vagão. Ela virou em direção a ele, negou algumas vezes e virou novamente para a frente. Ele continuou lentamente indo para o outro vagão. Abriu a primeira porta e olhou pra trás. Abriu a segunda porta e aguardou no vão entre os dois durante alguns segundos e, não vendo nenhuma reação da parte dela, entrou no outro vagão. Demoradamente escolheu seu assento bem ao lado das portas, que ficaram abertas esperando que a menina se convencesse a ir encontrá-lo. E ela não o fez.
Aí que a cena ganhou minha total atenção.Ela iria levantar e ir sentar com ele ou ele voltaria? Acho que ele se perguntava a mesma coisa, porque, ansioso, não conseguia evitar as olhadelas em direção ao nosso vagão - meu e da moça, que permanecia calma e intacta. Ela, pelo contrário, não se mostrava nem um pouco nervosa pela situação. Eu não parava de olhar o relógio, imaginando que o metrô iria partir e alguém teria que se mover. E ela olhava pela janela a estação vazia. O rapaz continuou sua rotina de espiar o outro vagão, mas a cada nova investida já ficava claro o que ia acontecer. O alarme do metrô soou, ele levantou, fechou as portas e se sentou ao lado dela, que o beijou meigamente no rosto.
Tudo isso durou uns 3 minutos, eles saltaram na próxima estação, mas a cena me rendeu pensamentos pelo resto da viagem. Me coloquei naquela situação e de todas as opções imagináveis, aquela nunca seria a minha reação ao evento. Eu ficaria nervosa, ansiosa, inquieta e não esperaria 30 segundos para ir ao outro vagão. Ou ligar para ele vir me encontrar. Ou ficar espiando nervosamente até que ele viesse. E fiquei me perguntando como ela conseguia ficar parada ali sem fazer nada. E me bateu a resposta: ela sabia que ele voltaria.
Essa faceta do amor que, como diz Coríntios, tudo crê, tudo espera e tudo suporta, esse amor que nunca falha, tá em falta na minha vida. Porque eu parei de crer e esperar faz tempo. Eu sou dessa turma que quer tudo pra ontem e vai atrás disso, mesmo que essa jornada seja solitária. E nesse momento eu percebi que eu deveria esperar mais vezes. E que isso não vai me fazer menos dona de mim. E que eu deveria permitir o meu par a conduzir a dança de vez em quando. Ainda que fosse mais demorado do que fazendo do meu jeito. Porque se o amor fosse uma competição, ela seria disputada por times, e não importa quem daria o primeiro passo, desde que os dois chegassem ao final dela juntos. E alcançar a vitória é muito mais fácil quando a dupla trabalha em equipe, assim ninguém fica cansado demais ou se sente excluído da conquista. E se tem uma coisa que eu gosto na vida é de ganhar.
Falando nela, é engraçado como a vida é. Esse casal nem lembra mais disso, eu não sei quem eles são, eles não sabem quem eu sou, mas vou levar essa história deles comigo todos os dias, para acalmar meu coração quando a ansiedade bater e insistir em me levar sozinha.