Não é raro ver alguém que terminou um relacionamento longo dizer "Eu não conhecia a pessoa com quem fiquei esse tempo todo". Eu já perdi a conta de quantas vezes ouvi isso. Acho que depois de um certo tempo junto você se acostuma com a pessoa com quem você começou a namorar. E também com a pessoa que você costumava ser quando começou a namorar. Mas querendo ou não, todo mundo muda. Pequenas coisas, mas que no dia-a-dia se tornam coisas enormes. De repente, o seu companheiro de japonês enjoou de comer sushi. O namorado que sabia cada passo da sua vida, nem pergunta mais como foi seu dia. A namorada que escrevia cartões em todas as datas especiais já não escreve mais um bilhete. Pequenas coisas, grandes consequências.
E aí, meu amigo, você começa a fingir que não se incomoda. Ou a fingir que ainda é a mesma pessoa e ainda é o mesmo relacionamento, em uma versão insossa do que costumava ser. Porque você ama a pessoa e ela te ama e nada precisa mudar. Mas tudo precisa mudar. Sempre precisa mudar. Porque querendo ou não a vida muda a gente, só basta a gente acompanhar essas mudanças.
O erro é achar que amor é para sempre e que ele sobrevive a qualquer coisa. Pode ser, mas não necessariamente é. Se você cuidar dele todos os dias, essa chance aumenta. E souber valorizar o que é bom na relação e amenizar o que é ruim. Amor é pra ser você mesmo na companhia do outro, sem ter medo de falar o que pensa e o que sente e a pessoa deixar de te gostar. É, amor dá trabalho. E nem todo mundo tem competência pra essa função.
Amor também é conquista. Porque conforme vamos mudando, parte do que fomos vai deixando de existir. E não é garantido que esses novos eus que vão surgindo dentro da gente, se apaixonem por quem estamos tão acostumados a gostar.
Ter que usar máscaras e encarnar um personagem que você não é, é o primeiro passo para o fim. Porque como em um emprego, você começa a não ter mais vontade de estar lá e simplesmente aparece pra bater o cartão. Pode parecer clichê e é. Mas a verdade é que os relacionamentos seriam simples, se nós não fôssemos tão complicados.
Relacionamento é muito mais que amor. É sobre maturidade, sabedoria, compreensão e acima de tudo, interesse pelo outro. Não é atração e muito menos interesse financeiro. É preciso cultivar um interesse pessoal pelo seu parceiro. Achar ele interessante, companheiro, enxergar nele valores especiais, ver nele algo único. Quando acaba a paixão cega dos primeiros meses, é isso que mantém o sentimento vivo. É isso que faz o relacionamento estar sempre em movimento e te motiva a dar o seu melhor, por mais difícil que seja conviver com alguém diferente de você. Acho que sem isso tudo aí, nem tem como existir amor.
É dificil, mas não se pode deixar o medo do desafio nos levar a ficar parados e agarrados a um passado, que claro, passou. Quando as coisas não evoluem, elas começam a retroceder. E não há nada pior do que voltar à estaca zero de um relacionamento que durou um tempo considerável. É como voltar frustrado para aquela cidade que você deixou há muito tempo atrás, cheio de planos e sonhos que não se concretizaram. Cheio de bagagens pesadas e lembranças amargas, é muito mais difícil se locomover.
Amar é ter que dar a cara a tapa. E se deixar ser volúvel. E se permitir ser vulnerável. E correr atrás, brigar, lutar com unhas e dentes. Amor também acaba, mas às vezes isso só depende da gente.
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Há 10 anos